A Produção de ‘Adolescência’: Como a Netflix Criou Episódios em Uma Única Tomada

são paulo, SP – No dia 13 de março, a Netflix lançou a minissérie “adolescência”, que rapidamente chamou a atenção do público e se tornou um verdadeiro fenômeno. A narrativa gira em torno de Jaime Miller, um garoto de apenas 13 anos, cuja vida se transforma completamente após ser acusado de assassinar uma colega de escola. Essa premissa intrigante cativou os espectadores, gerando discussões profundas sobre temas relevantes da atualidade.
Dividida em quatro episódios, cada um com cerca de uma hora de duração, a série aborda questões essenciais, como as influências das plataformas digitais na juventude, a comunicação entre pais e filhos e os desafios da saúde mental entre os jovens. Essas temáticas ressoaram fortemente nas redes sociais, fazendo com que “adolescência” se tornasse um assunto amplamente comentado nos grupos de comunicação, refletindo a urgência dessas discussões na sociedade contemporânea.
Além do enredo impactante, a maneira como a série foi filmada também despertou grande interesse. A Netflix revelou detalhes sobre os bastidores que aumentaram a curiosidade do público. Todos os episódios foram gravados em um estilo de plano-sequência, uma técnica cinematográfica que consiste em longas tomadas contínuas sem cortes, preservando a fluidez das ações e movimentos do câmera ao longo da narrativa. Essa abordagem inovadora não só impregna a trama com um senso de realismo, mas também desafia a equipe técnica e o elenco a se manterem em perfeita sincronia durante as gravações.
A produção enfrentou um desafio significativo no segundo episódio, que contou com a participação de 320 adolescentes e 50 adultos, todos coreografados para criar uma sequência fluida e envolvente. Em uma cena marcada pela inovação, a câmera foi projetada para atravessar uma janela ao sair de uma escola e, em seguida, conectou-se a um drone, que levantou o equipamento, oferecendo ao espectador uma visão panorâmica da cidade. Essa dinâmica de filmagem exigiu um estabilizador, que facilitou a movimentação da câmera entre os diferentes cenários e personagens, assegurando a qualidade visual da série.
Embora as produções teatrais tornem qualquer erro visível ao público, a gravação em plano-sequência permite uma margem maior para falhas, embora essas possam resultar em custos elevados. Cada tentativa de filmagem exige um tempo precioso da rotina dos atores e uma ampliação nos horários de produção, o que pode impactar o orçamento geral do projeto. No entanto, um plano-sequência bem executado é um indicativo do domínio técnico da equipe, o que foi claramente demonstrado em “adolescência”. A execução precisa dessa técnica não só intensifica o suspense da narrativa como também enriquece a experiência do espectador.
No total, foram capturadas quatro tomadas, uma para cada episódio, onde várias tentativas foram necessárias até que a melhor versão fosse selecionada. No segundo episódio, a equipe gastou um tempo considerável, e apenas a 13ª tentativa foi aprovada como a mais adequada. Entre os detalhes interessantes, a Netflix afirmou que a cena em que policiais arrombam a porta da casa de Jaime, no primeiro episódio, necessitou de 12 portas para ser realizada. Outro momento marcante ocorreu no quarto episódio, onde o personagem interpretado por Stephen Graham, além de ser um dos criadores e roteiristas da série, usou uma tinta especial que pode ser lavada, permitindo que a cena fosse filmada diversas vezes sem comprometer o ambiente.
É importante mencionar que muitas produções cinematográficas optam por utilizar planos-sequência “falsos”. Esta técnica consiste em empregar cortes invisíveis que emendam diferentes tomadas, criando a ilusão de que o material está sendo exibido sem interrupções. Táticas comuns incluem passagens por áreas escuras ou a imobilização da câmera em pontos estratégicos, o que facilita a transição entre as cenas de forma sutil. Contudo, essa não foi a abordagem adotada em “adolescência”. Um exemplo notável do uso de planos-sequência “falsos” é o aclamado filme de guerra “1917”, que conquistou o Oscar de Melhor Fotografia em 2020, destacando a maestria técnica na criação de uma experiência cinematográfica imersiva.
A combinação da narrativa poderosa, abordando questões contemporâneas, com a inovação técnica da filmagem não apenas capturou o interesse dos espectadores, mas também solidificou “adolescência” como um marco na produção de séries contemporâneas. A recepção positiva e o engajamento nas redes sociais são uma prova da relevância deste trabalho artístico, que dialoga intimamente com a realidade da juventude moderna.