“Endometriose: Desafios no Diagnóstico que Podem Atrasar Detecção em Até Sete Anos”

A endometriose é uma condição que afeta mais de 7 milhões de brasileiras e cerca de 176 milhões de pessoas ao redor do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora seja considerada uma doença comum, o diagnóstico da endometriose costuma ser demorado: em média, uma mulher passa sete anos até receber o diagnóstico correto, conforme estudo da Universidade de York. Essa condição se caracteriza pelo crescimento do endométrio — a mucosa que reveste a parede interna do útero — em outras partes do corpo, incluindo a bexiga e o intestino. Os principais sintomas da endometriose incluem cólicas menstruais intensas, dor durante a relação sexual e dificuldades para engravidar. Se não tratada adequadamente, a endometriose pode comprometer significativamente a qualidade de vida da mulher, afetando tanto a saúde física — com problemas urinários e intestinais — como a saúde emocional.
“A demora no diagnóstico da endometriose gera um impacto emocional profundo”, comenta um especialista reconhecido na área ginecológica. “Um dos principais obstáculos para um diagnóstico precoce é a falta de valorização dos sintomas apresentados pelas mulheres; muitas acreditam que sentir cólicas intensas faz parte do ciclo menstrual normal, o que atrasa o reconhecimento da doença.” Essa visão equivocada contribui para a triste realidade da subdiagnosticação, onde os sinais de endometriose podem ser confundidos com outras condições, como síndrome do intestino irritável ou cistite intersticial, conforme apontam especialistas em ginecologia.
Além dos obstáculos mencionados, a falta de acesso a profissionais especializados e exames de imagem de alta precisão acaba complicando ainda mais o cenário. Essa carência é comumente atribuída à falta de conhecimento sobre endometriose entre alguns profissionais de saúde, que não possuem a formação necessária para identificar os sinais da doença e interpretar corretamente os exames de imagem especializados. O modelo tradicional de ensino médico frequentemente enfatiza tratamento sintomático, como o uso de contraceptivos, sem abordar a complexidade da endometriose ou a necessidade de tratamentos personalizados.
Então, como se dá o diagnóstico de endometriose? Esse processo começa com uma cuidadosa avaliação médica, que analisa sintomas como dor pélvica crônica, cólicas menstruais severas, dor durante as relações sexuais e dificuldades para engravidar. Durante o exame físico, o ginecologista pode encontrar nódulos ou aderências que indicam a presença da doença. Exames de imagem, especialmente o ultrassom transvaginal preparado para mapeamento de endometriose e a ressonância magnética da pelve, são cruciais para identificar a extensão e a localização do problema, que pode afetar não apenas a pelve, mas outras regiões, como o intestino e até o diafragma.
O mapeamento detalhado realiza um papel vital no direcionamento do tratamento adequado para cada paciente, sempre sob a supervisão do ginecologista. Além disso, diversos exames adicionais podem ser solicitados para um diagnóstico mais completo. Por exemplo, a histerossalpingografia ajuda a identificar problemas nas trompas de falópio e no útero, sendo útil na investigação da infertilidade. A ultrassonografia de controle da ovulação é essencial para mulheres que desejam engravidar, pois permite avaliar a resposta ovariana. Exames como a manometria anorretal são indicados para mulheres com constipação crônica, uma condição frequentemente associada à endometriose intestinal, enquanto a defecografia e a defeco-ressonância analisam o funcionamento do assoalho pélvico e podem detectar obstruções ou prolapsos.
Quando se trata da bexiga e dos ureteres, é recomendado que a avaliação seja realizada por urologistas especializados, já que a endometriose pode afetar essas áreas. Exames específicos, como a ressonância do trato urinário e estudos urodinâmicos, podem ser necessários para um diagnóstico mais abrangente. Em alguns casos, a laparoscopia diagnóstica é realizada, embora atualmente seja mais indicada quando é necessário um tratamento cirúrgico.
É crucial que as mulheres fiquem atentas aos sinais de endometriose e busquem atendimento médico, especialmente quando as cólicas menstruais se tornam intensas, persistindo mesmo com o uso de analgésicos. “Se uma mulher tem cólicas que duram mais de dois dias, com muita intensidade, que a obrigam a tomar medicamentos frequentemente ou a impedir de realizar suas atividades diárias, esta já deve procurar um médico, pois essa dor não é normal”, orienta um expert na área.
Uma vez confirmada a endometriose, há várias opções de tratamento disponíveis, incluindo o uso de anticoncepcionais hormonais e dispositivos intrauterinos (DIUs). Em casos onde os medicamentos não proporcionam alívio ou quando há comprometimento de órgãos, como o intestino e a bexiga, a cirurgia minimamente invasiva pode ser uma solução. A laparoscopia é indicada especialmente quando há falha no tratamento clínico ou a suspeita de endometriose profunda, pois o procedimento possibilita a remoção das lesões. A cirurgia robótica é frequentemente recomendada para casos mais complexos, envolvendo endometriose profunda com comprometimento intestinal ou ureteral.
Além disso, a adoção de hábitos saudáveis pode ser fundamental para o controle dos sintomas. “Uma dieta equilibrada, evitando o excesso de açúcar, farinha branca e carne vermelha, aliada à prática regular de atividades físicas, é essencial para o manejo da dor”, sugere um profissional experiente. Por fim, a orientação nutricional e o suporte psicológico contribuem significativamente para a regulação do trânsito intestinal e para o bem-estar emocional das pacientes.