Remédio Injetável Semestral Demonstrado como 100% Eficaz na Prevenção do HIV, Segundo Estudo

A droga conhecida comercialmente como Sunlenca é um medicamento injetável que pode ser administrado apenas duas vezes ao ano. Um estudo recente, divulgado na respeitada revista científica “New England Journal of Medicine” e apresentado na 25ª Conferência Internacional sobre Aids em Munique, revelou que o antirretroviral lenacapavir, desenvolvido pela Gilead Sciences, demonstrou 100% de eficácia na prevenção da infecção pelo HIV-1, o vírus responsável pela maioria das infecções de HIV em todo o mundo.
Esses dados foram coletados em uma pesquisa que envolveu mais de 2 mil mulheres cisgênero na Uganda e na África do Sul. Os resultados foram tão promissores que o estudo clínico foi interrompido antecipadamente, uma vez que os resultados superaram os critérios definidos para a continuidade da pesquisa. A Gilead havia revelado anteriormente, em junho, resultados preliminares de um estudo de Fase 3, onde novos medicamentos são testados em grandes populações.
O UNAIDS, programa conjunto das Nações Unidas voltado à luta contra a AIDS, reconheceu o potencial do lenacapavir e destacou a importância de garantir acesso a esse tratamento a todas as pessoas que necessitam. O medicamento custa cerca de US$ 40 mil por ano, e Winnie Byanyima, diretora executiva da UNAIDS, frisou que a equidade no acesso a novas tecnologias pode acelerar os esforços globais para eliminar a AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030, parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Embora o lenacapavir tenha sido aprovado nos Estados Unidos, Europa e Canadá para tratamento, ainda não possui registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil. A Gilead do Brasil informou que a solicitação de registro está em fase de planejamento, sem previsão de data.
Sunlenca representa uma nova alternativa em comparação com os medicamentos preventivos orais atualmente disponíveis, conhecidos como profilaxia pré-exposição (PrEP). Desde 2018, esses medicamentos têm sido oferecidos pelo SUS e são administrados antes das relações sexuais para preparar o organismo contra a infecção por HIV. Entretanto, as mulheres cisgênero enfrentam restrições, pois não podem usar a PrEP sob demanda, devido a estudos que indicam menor eficácia em mucosas vaginais em comparação às anais.
O estudo da Gilead revelou resultados impressionantes: nenhuma das 2.134 mulheres que receberam lenacapavir contraiu o HIV, enquanto 16 das 1.068 mulheres que tomaram entricitabina e fumarato de tenofovir desoproxila foram infectadas, representando uma taxa de 1,5%. Para aquelas que tomaram emtricitabina e tenofovir alafenamida, a infecção também atingiu 39 das 2.136 mulheres, com uma taxa de 1,8%. Esses resultados foram elogiados por especialistas, que consideram o estudo como um marco na prevenção do HIV.
Pesquisas adicionais estão em andamento em países como Argentina, Brasil, México, Peru, África do Sul e Tailândia para avaliar a eficácia do lenacapavir em populações diversas, incluindo homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e usuárias de drogas injetáveis. Uma análise preliminar desses resultados está prevista para ser divulgada ainda este ano ou no começo de 2025.
Ativistas, incluindo Médicos Sem Fronteiras, exigem uma ação global para quebrar o monopólio da Gilead e permitir a produção de versões genéricas do lenacapavir. Manifestações em Munique pediram o acesso a medicamentos a preços acessíveis, especialmente considerando que estimativas apontam que o custo da versão genérica poderia ser reduzido significativamente, passando de $42.250 para cerca de $100 anuais.
O compromisso da Gilead com a inovação científica busca atender às necessidades das pessoas afetadas pelo HIV em todo o mundo, promovendo parcerias e colaborações para expandir o acesso ao tratamento e eliminar barreiras nos cuidados de saúde.
Dados do Ministério da Saúde do Brasil mostram que, em 2022, houve 10.994 óbitos por HIV/AIDS, uma redução em relação a 2012, com uma disparidade significativa entre grupos raciais. O HIV, que compromete o sistema imunológico, continua a ser uma preocupação de saúde pública, com cerca de um milhão de pessoas vivendo com o vírus no Brasil.
A informação sobre HIV e AIDS é vital, uma vez que a transmissão do vírus pode ocorrer principalmente por relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas e de mães para filhos durante gestação e amamentação. Mesmo com a disponibilidade de tratamentos eficazes, a educação e a conscientização continuam essenciais para controlar a epidemia.