Roman Krznaric: “Histórias de Sucesso em Negociações Destacam a Importância das Conexões Pessoais”

A trajetória das Conferências do Clima da ONU revela um cenário preocupante, conforme pontua o filósofo Roman Krznaric em uma recente entrevista à EXAME, na qual ele compartilhou suas reflexões logo após a COP29, realizada em Baku, Azerbaijão. Durante sua estada, que também incluiu uma passagem pelo brasil, Krznaric expressou suas ideias inovadoras sobre como abordar a questão climática de maneira mais eficaz.
Em sua recepção na sede da The School of Life em São Paulo, Krznaric, que possui origens australianas e agora reside em Londres, apresentou um conceito que transcende as tradicionais discussões sobre clima e política. Cofundador de uma escola renomada em desenvolvimento pessoal, com presença internacional em mais de dez países, ele é o autor de obras impactantes, incluindo “O Poder da Empatia”, “Sobre a Arte de Viver” e “Como Ser um Bom Ancestral”, além de seu mais recente lançamento, “Histórias para o Amanhã”. A filosofia de Krznaric se baseia na crença no poder transformador das ideias, capaz de gerar um impacto positivo em nível global.
Durante a conversa, ele fez uma pergunta provocadora: “O que significaria realmente conversar sobre a vida?” A proposta de Krznaric é radical: reunir uma diversidade de pessoas em um ambiente acolhedor onde um ‘cardápio de conversas’ substituiria o tradicional menu de refeições. Essas interações se centrariam em questões existenciais relevantes, como o que cada um aprendeu sobre amor, coragem e a evolução de suas prioridades ao longo do tempo. Ele acredita que esse tipo de diálogo humano é fundamental para promover conexões mais profundas e significativas.
Essa abordagem dialoga diretamente com sua visão na criação do Museu da Empatia, inaugurado em 2015, cujo objetivo é promover entre desconhecidos conversas significativas para gerar mudanças nas relações interpessoais. Krznaric sustenta que soluções baseadas exclusivamente em livros ou negociações formais falham em abordar as raízes da questão. Ele argumenta que as negociações climáticas devem começar com a construção de entendimento mútuo, permitindo que questões complexas como financiamento e problemas ambientais sejam discutidos posteriormente.
Em um tom crítico, ele afirmou que não se compromete a participar dessas grandes Cúpulas do Clima, considerando-as ineficazes, especialmente quando realizadas em países que são grandes produtores de petróleo. Krznaric observa que, se o objetivo é fomentar um diálogo real e progressivo, uma cúpula no brasil, e mais especificamente na Amazônia, poderia trazer uma nova perspectiva. Contudo, ele alerta que isso dependeria fortemente do contexto político do país e das eleições de 2026. A crise ecológica, segundo ele, continua a acelerar, exigindo ações imediatas e eficazes.
Uma das propostas mais inovadoras de Krznaric para a COP30 é o projeto “A Mile in My Shoes”. Esta iniciativa única apresenta uma exposição interativa onde os participantes “calçam” sapatos de diferentes desconhecidos (como ativistas indígenas, quilombolas ou crianças), permitindo uma experiência imersiva que expõe realidades diversas. O intuito é que líderes e delegações que participam da cúpula tenham a oportunidade de ver o mundo através da lente do próximo, afastando-se de interesses pessoais e nacionais.
Em seu novo livro, “Histórias para o Amanhã”, Krznaric instiga a reflexão sobre o legado que deixamos para as futuras gerações. Ele acredita que aprender com as experiências passadas pode nos preparar melhor para enfrentar os desafios globais atuais, como a crise climática. Para ele, as economias que visam resultados de curto prazo estão condenadas a levar a humanidade a um colapso, uma vez que ignoram os limites planetários que precisamos respeitar.
Krznaric menciona o conceito de economia “Donut”, criado por Kate Raworth, que propõe um modelo sustentável que desafia a noção de crescimento econômico infinito. Esse paradigma convida a sociedade a repensar a riqueza, enfatizando a necessidade de atender às necessidades essenciais de todos, enquanto respeitamos os limites do nosso planeta. Ele também destaca a importância de se tornar um “bom ancestral”, questionando quais responsabilidades temos em relação às próximas gerações e como desejamos ser lembrados.
Por último, ele considera a abordagem do “pensamento de catedral”, que visa compreender que algumas obras sociais transcendem nosso tempo de vida e, portanto, devemos concentrar esforços em projetos de longo prazo. Esta visão contrasta com a mentalidade do imediatismo que atualmente domina o mundo dos negócios, frequentemente contribuindo para o agravamento da crise climática.
Roman Krznaric traz à tona a esperança através de exemplos de iniciativas sustentáveis e cidades que já estão fazendo a diferença. Ele argumenta que a chave para enfrentar muitos dos desafios que enfrentamos hoje reside em aprendermos com a história, com as revoltas e movimentos sociais que promoveram mudanças significativas. Mesmo reconhecendo a gravidade da situação atual, ele enfatiza que é obrigação das gerações presentes procurar soluções e alterar a lógica de crescimento para alcançar um equilíbrio sustentável e duradouro.