“O Ozempic Impactará o Consumo de Álcool? Entenda a Análise do ‘Buffett Inglês'”

Terry Smith, um dos investidores de ações mais respeitados e influentes de Londres, expressou preocupações significativas sobre o impacto dos medicamentos para perda de peso na indústria de bebidas alcoólicas. Conhecido no mercado financeiro como o “Warren Buffett inglês”, Smith recentemente tomou a decisão de liquidar sua participação na Diageo, uma renomada fabricante de bebidas que produz marcas icônicas como Guinness, José Cuervo e Tanqueray, da qual era sócio desde 2010. O investidor alega que o setor de bebidas está apenas começando a enfrentar uma diminuição na demanda, consequência do efeito dos medicamentos como o Ozempic.
Em uma carta dirigida a seus cotistas, publicada recentemente, Smith ressaltou que “é provável que esses medicamentos venham a ser utilizados como tratamentos para o alcoolismo, dada a influência que exercem sobre o consumo de bebidas alcoólicas”. Esta afirmação ecoa uma tendência crescente de preocupação entre os investidores em relação à saúde da indústria de bebidas em um cenário onde a popularidade das drogas para emagrecimento está em ascensão. Atualmente, sua gestora, Fundsmith, gerencia ativos que somam cerca de 39 bilhões de libras esterlinas, o que equivale a aproximadamente 44 bilhões de dólares.
Além de suas preocupações relativas ao impacto dos medicamentos, Smith também expressou desapontamento com a liderança da Diageo, especialmente em relação à falta de transparência sobre o fraco desempenho das vendas na américa latina. Desde que Debra Crew assumiu o cargo de CEO em junho de 2023, a empresa enfrentou desafios significativos, culminando em um relatório em novembro do mesmo ano que revelou uma colapso na demanda na região. Essa situação resultou em estoques excessivos e marcou o primeiro declínio nas receitas anuais da companhia desde o início da pandemia de COVID-19.
Apesar de suas apreensões, Smith não abandonou completamente o setor de bebidas. Ele é conhecido por sua estratégia de investimento a longo prazo, mantendo ações em sua carteira por períodos prolongados, em um estilo que muitos consideram semelhante ao de Buffett. Neste contexto, Smith manteve sua posição na Brown-Forman, a empresa cuja marca principal é o famoso whiskey Jack Daniel’s. A estratégia de Smith se fundamenta na crença de que os consumidores tenderão a beber menos, mas com maior qualidade. Ele destaca que a Brown-Forman está mais voltada para o mercado de bebidas premium do que a Diageo, o que pode atenuar os possíveis impactos negativos causados pela popularização de medicamentos para perda de peso.
A Brown-Forman, uma empresa familiar com mais de um século de história, tem um legado que a ajudou a superar até mesmo desafios como a Lei Seca nos Estados Unidos. Smith acredita firmemente que essa adaptabilidade está enraizada no DNA da empresa, proporcionando uma vantagem em tempos de adversidade.
Os medicamentos Ozempic e WeGovy, embora desenvolvidos para o tratamento de condições como diabetes e obesidade, têm despertado a atenção devido a relatos de usuários que experimentaram uma diminuição no desejo por bebidas alcoólicas. Esses medicamentos contêm um peptídeo que imita o GLP-1, um hormônio que é produzido pelo corpo após a ingestão de alimentos e que desempenha um papel crítico na regulação do apetite. Além de retardar a digestão, há indícios de que esse hormônio possa afetar áreas do cérebro responsáveis pela sensação de prazer, influenciando, assim, o desejo por alimentos e bebidas.
Pesquisas divulgadas pela Bloomberg indicam que estudos realizados em animais sugerem que os medicamentos do tipo GLP-1 podem contribuir para a redução do consumo de substâncias como álcool, cocaína, anfetamina e nicotina. Embora as evidências anedóticas entre os humanos ainda não estejam suficientemente estabelecidas para comprovar a eficácia desses medicamentos no combate ao alcoolismo, diversas investigações estão sendo realizadas nas nações como Estados Unidos e Dinamarca por pesquisadores independentes. Vale ressaltar que a fabricante Novo Nordisk, responsável pela produção do Ozempic e WeGovy, ainda não conduziu nenhum estudo específico focado nessa questão.
Assim, o cenário apresenta um campo minado para a indústria de bebidas, que enfrenta o desafio de se adaptar a um comportamento de consumo em transformação, ao mesmo tempo em que investidores vigilantes como Terry Smith avaliam as possíveis consequências dessas novas abordagens terapêuticas. Essa nova realidade pode não apenas alterar o retrato de consumo, mas também redefinir estratégias de investimento e operações nessa dinâmica indústria.