Forró em Brasília: A Capital Federal Celebra a Música Nordestina
Brasília, a nova capital federal do brasil, ergueu-se não apenas sobre um solo de concreto, mas como um verdadeiro caleidoscópio de culturas e sotaques. Desde a sua fundação, a cidade passou a acolher pessoas de todas as partes do país, e entre esses migrantes, destaca-se a presença significativa dos nordestinos. Esses novos habitantes trouxeram consigo não apenas suas histórias e tradições, mas também uma rica contribuição para a formação da identidade cultural brasilienses que conhecemos hoje. Um reflexo disso é o forró, um ritmo que se transforma em sinônimo de alegria e celebração na capital, com seus sons marcantes da sanfona, do triângulo e da zabumba, instrumentos que embalam a alma do povo e representam sua essência.
A história do forró remonta ao nordeste brasileiro, onde, desde os primeiros tempos, a música retratava as vivências e desafios da população da região. O professor de dança César da Silva, com 74 anos e mais de 30 dedicados ao ensino do forró em seu estúdio na Ceilândia, destaca que o termo “forró” tem raízes no final do século XIX, derivando dos bailes conhecidos como Forrobodó em Pernambuco. Ele explica que “forró” é uma abreviação de “forrobodó”, que significa festa ou celebração, ressaltando como esse gênero musical se tornou uma forma de expressão cultural entre os nordestinos.
César acredita que o forró vai além de simplesmente ser uma dança; ele enxerga o ritmo como um poderoso meio de inclusão social. “O forró oferece autoestima e cria laços entre diferentes gerações,” afirma. Para ele, a dança oferece um espaço onde jovens e idosos podem se conectar e compartilhar experiências, reforçando a união comunitária. Um dos ícones responsáveis pela popularização do forró em todo o brasil é o “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, cuja influência perdura e celebraremos no Dia Nacional do Forró, em 13 de dezembro, marcando o seu aniversário e a importância desse estilo musical no cenário nacional.
Com o intuito de homenagear essa rica tradição, Brasília ganha vida com festivais que promovem a cultura nordestina, como o Festival Dia do Nordestino, que acontece na Casa do Cantador em Ceilândia. No dia 29 de novembro, o evento se torna um importante ponto de encontro da comunidade, promovendo shows de artistas locais como DJ Hercules, Banda Imagem e Menino Ricco. Para os amantes do forró, a banda Collo de Mainha promete um show que mescla o tradicional ao moderno, trazendo uma experiência musical vibrante e convidativa. Rodrigo Falashi, sanfoneiro da banda, comenta: “Nosso repertório é uma viagem pelo tempo, conectando o legado dos grandes mestres do forró com novas influências contemporâneas.”
Além de celebrar a diversidade cultural, o festival se preocupa com a inclusão, oferecendo recursos como audiodescrição para pessoas com deficiência visual. O apresentador e audiodescritor Cacá Silva destaca a relevância dessa iniciativa, enfatizando que incluir todos é fundamental para garantir que a cultura seja acessível a todos os cidadãos.
Outro evento que tem chamado a atenção é o Forró No Pôr do Sol, realizado quinzenalmente na Praça do Cruzeiro. Desde sua criação em 2022, o evento se tornou um espaço gratuito e acessível onde pessoas de todas as idades podem compartilhar a alegria do forró. O organizador Mayk Solar revela que tudo começou com um simples encontro de amigos que levavam uma caixa de som para a praça e dançavam. Hoje, o evento atrai aproximadamente 500 participantes por edição, fomentando um ambiente familiar e intergeracional, repleto de música e descontração.
Para participantes como Ana Maria, de 22 anos, o Forró No Pôr do Sol oferece a chance perfeita de celebrar a vida. “É um espaço incrível! Sempre trago amigos e me divirto muito. Espero que esse evento continue por muitos anos,” conta ela, refletindo sobre a importância do forró para unir pessoas de diferentes gerações.
A dança não é apenas um passatempo entre os jovens, mas também exerce um papel vital na vida de muitos idosos no Distrito Federal. Na Associação Maria da Conceição (Asmac), no Gama, os bailes de forró realizados às quintas e domingos são parte essencial da programação voltada para a terceira idade. A presidente da Asmac, Maria José Resende, de 81 anos, comenta que a dança vai além do aspecto físico, funcionando como uma terapia que melhora a autoestima e mantém os idosos ativos. “Nosso objetivo é criar um ambiente acolhedor onde todos se sintam em casa e respeitados, garantindo que a faixa etária dos nossos participantes varie entre 50 e 90 anos,” conclui.
O forró, portanto, é muito mais do que uma simples dança; ele representa um elo cultural essencial que une diversas gerações, expressando a rica herança nordestina, enquanto promove inclusão e celebra a vitalidade da vida em comunidade.