“Fim do El Niño e Incertezas sobre La Niña: É Hora de Ficar Alerta para a Dengue?”
O fenômeno climático conhecido como El Niño gera impactos significativos nas condições meteorológicas de diversas regiões do Brasil, especialmente na região Sul e em partes do Sudeste, onde provoca um aumento considerável das chuvas e uma elevação nas temperaturas. Em contrapartida, o fenômeno La Niña influencia o clima de forma oposta, resultando em uma diminuição das precipitações e temperaturas nessas mesmas áreas. Ao mesmo tempo, a presença do La Niña traz um aumento das chuvas nas regiões Norte e Nordeste do país. Com isso, a dinâmica desses fenômenos climáticos desempenha um papel crucial na incidência de doenças transmitidas por vetor, como a dengue.
A dengue é uma enfermidade cuja propagação é favorecida por condições climáticas quentes e úmidas, que aceleram a reprodução do mosquito Aedes aegypti, o principal transmissor da doença. De acordo com análises que comparam dados oficiais do Sistema Único de Saúde (SUS) e informações sobre os ciclos de El Niño e La Niña obtidas através da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, observa-se uma tendência acentuada: a incidência de casos de dengue tende a ser mais elevada durante os episódios de El Niño. Essa correlação é evidente, especialmente em um contexto em que o aumento do volume de chuvas nas regiões Sul e Sudeste, associado ao calor excessivo, cria um ambiente propício para a proliferação do Aedes aegypti.
Um gráfico ilustrativo fornece uma visão clara sobre a alternância entre os fenômenos de El Niño e La Niña desde o início do século XXI, mostrando a variação da temperatura do Oceano Pacífico equatorial. As seções em vermelho no gráfico representam os períodos de El Niño, enquanto as áreas em azul indicam a presença do La Niña. Já as porções cinzas representam os momentos de neutralidade climática, como a situação atual. Na parte inferior do gráfico, um retrato do número de casos confirmados de dengue ilustra que a confiabilidade dos dados é mais robusta a partir da segunda metade da década de 2010.
Ao comparar os dados dos dois gráficos, nota-se que, em geral, períodos de El Niño estão associados a um aumento na ocorrência de casos de dengue, conforme evidenciado pela predominância de barras rosas nas representações gráficas. No entanto, é importante destacar um evento em 2013, quando houve um aumento considerável de casos de dengue durante uma fase de neutralidade climática, com uma leve tendência para La Niña. Esse fenômeno sublinha que, embora a relação entre El Niño e a dengue seja clara, surtos da doença também podem ocorrer em condições climáticas neutras, embora com menor frequência.
Diante desse cenário, surge a necessidade urgente de um alerta para as autoridades de saúde e gestão pública. É essencial que as campanhas de prevenção à dengue sejam intensificadas, uma vez que o histórico revela que situações semelhantes à ocorrida em 2013 podem se repetir. Ações proativas são fundamentais, especialmente porque, com a aproximação do fenômeno El Niño, um aumento no número de casos de dengue é uma possibilidade concreta que não pode ser ignorada.
Embora medidas de prevenção sejam a principal estratégia para controlar a disseminação da dengue, a vacina contra a doença, que já está em processo de análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) através de uma solicitação do Instituto Butantã, ainda não está disponível para o público em geral. Dado este cenário, a prevenção continua sendo a alternativa mais viável para evitar novos surtos de dengue. A população deve ser instruída a eliminar locais que favorecem a proliferação do mosquito, como recipientes com água parada, e a adotar práticas que reduzam os riscos de contágio.
Com a combinação de ações educativas, vigilância constante e o eventual retorno da vacina, será possível mitigar os impactos da dengue e proteger a saúde da população brasileira, especialmente em épocas de maiores riscos climáticos. Portanto, a conscientização e a mobilização social são essenciais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e suas repercussões nas doenças infecciosas.