EUA Introduzem Rótulos de Aviso de Câncer para Bebidas Alcoólicas
**Bebidas Alcoólicas e Riscos de câncer: A Nova Recomendação do Governo dos EUA**
A necessidade de incluir aviso sobre os riscos de câncer nos rótulos de bebidas alcoólicas foi reforçada por Vivek Murthy, cirurgião-geral dos Estados Unidos, em uma recente declaração. Este movimento, que ocorreu na última sexta-feira (3), indica uma possível mudança na regulamentação do setor de bebidas, similar às diretrizes já estabelecidas para produtos do tabaco. A ideia é aumentar a conscientização sobre os efeitos prejudiciais do consumo de álcool na saúde pública.
Murthy ressaltou que existe uma relação clara e bem documentada entre o consumo de álcool e o surgimento de câncer, implicando pelo menos sete tipos da doença, sem distinção entre as diferentes categorias de bebidas, como cerveja, vinho ou destilados. Segundo ele, cerca de 100 mil casos novos de câncer e aproximadamente 20 mil mortes anuais nos Estados Unidos são atribuídos ao consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, o álcool é considerado a terceira causa mais comum de câncer evitável no país, atrás apenas do tabaco e da obesidade.
Após o anúncio, o impacto no mercado financeiro foi imediato, com ações de grandes corporações do setor de bebidas, como Diageo, Pernod Ricard, Anheuser-Busch InBev, e Heineken, caindo até 3%. O Conselho de Bebidas Destiladas dos Estados Unidos (DISCUS) rapidamente respondeu à recomendação, citando um relatório da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina. Amanda Burger, vice-presidente de ciência do DISCUS, afirmou que os avisos de saúde já existentes nas embalagens de bebidas alcoólicas informam os consumidores sobre os potenciais riscos associados ao consumo de álcool.
Em uma perspectiva global, a situação é igualmente preocupante. O Global Status Report for Alcohol and Health, disponibilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta um crescimento significativo no número de países que exigem etiquetas de advertência em bebidas alcoólicas, aumentando de 31 em 2014 para 47 em 2018. A Irlanda, por sua vez, é reconhecida como líder nesta área; a partir de 2026, será o primeiro país a exigir, em todos os rótulos de bebidas alcoólicas, alertas que vinculam qualquer quantidade de consumo de álcool ao risco de câncer.
Outros países também estão adotando medidas rigorosas. A África do Sul já exige sinais de advertência sobre o efeito do álcool na gravidez desde 2009, enquanto a Coreia do Sul implementou avisos gráficos em 2016. A Tailândia segue com um sistema abrangente de rotulagem e advertências desde 2010, e a Turquia possui advertências sobre riscos à saúde desde 2013. No brasil, a regulamentação ainda é insuficiente. Embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha introduzido novas regras para rotulagem de produtos alimentares em 2022, as bebidas alcoólicas não são abrangidas por essas obrigações.
As diretrizes ustaníveis nos EUA recomendam que homens limitem o consumo a duas doses diárias e mulheres a uma dose. Murthy sugere uma reavaliação desses limites em resposta às novas evidências que ligam consumo de álcool ao câncer. Entre os tipos de câncer identificados como diretamente associados ao álcool estão: câncer de mama, garganta, fígado, esôfago, boca, laringe e cólon.
O documento divulgado por Murthy propõe várias ações, incluindo a atualização dos rótulos de advertência, que atualmente focam apenas nos riscos durante a gravidez e na operação de máquinas. Além disso, o relatório sugere que se amplie a educação sobre os riscos do álcool, que se fortaleçam as triagens médicas para consumo excessivo e que se incrementem os encaminhamentos para tratamento quando necessário. Contudo, a implementação dessas mudanças enfrentará desafios políticos. Com a possível transição de governo, com a chegada do presidente Donald trump, as recomendações podem sofrer alterações, considerando que trump possui um histórico pessoal que reforça sua consciência sobre os riscos do alcoolismo, especialmente após a perda de um irmão para essa condição.
Para a indústria de bebidas alcoólicas, o cenário é preocupante. Após um crescimento considerável durante a pandemia, as vendas vêm caindo, e os novos rótulos de advertência podem não apenas agravar a situação, mas também representar um desafio significativo no futuro. A análise de especialistas como Blake Droesch, da eMarketer, indica que, embora a nova regulamentação não seja uma “sentença de morte” para os fabricantes de bebidas alcoólicas, ela poderá intensificar os riscos de longo prazo para a indústria. Com esse cenário em constante evolução, a conscientização e a educação sobre os riscos do consumo de álcool se tornam mais essenciais do que nunca.
