Estufa Inovadora que Conserva a Frescura das Plantas se Destaca com o Aquecimento Global

Em um cenário global marcado pelo aumento das temperaturas e pela imprevisibilidade climática, os agricultores estão enfrentando enormes desafios para manter suas plantações saudáveis e produtivas. Nesse contexto, uma inovadora startup, surgida no deserto da Arábia Saudita, acredita ter encontrado uma solução viável. Denominada SecondSky, a tecnologia desenvolvida por um grupo de pesquisadores visa a amenizar as condições adversas da agricultura moderna, proporcionando um ambiente mais controlado dentro das estufas.

A aplicação dessa tecnologia é revolucionária: ela é capaz de reduzir a temperatura interna das estufas em até sete graus Celsius sem comprometer a incidência de luz vital para o crescimento das plantas. Este efeito é logrado através de uma nanotecnia que utiliza lâminas de polímero plástico projetadas para bloquear a radiação solar infravermelha próxima. Com a diminuição do calor excessivo, os agricultores podem cultivar suas plantações com até 30% menos água e reduzem a necessidade de sistemas de resfriamento mecânico, uma economia significativa em um mundo onde os recursos hídricos estão se tornando cada vez mais escassos.

O desenvolvimento da tecnologia SecondSky é atribuído a Derya Baran, uma professora associada na área de ciência de materiais e engenharia da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (KAUST). Graças a um design premiado, esta inovação já foi rapidamente comercializada, alcançando compradores em 15 países através da Iyris, uma empresa derivada das pesquisas desenvolvidas na KAUST.

As nações do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, estão dentre os primeiros a adotar a tecnologia. De acordo com John Keppler, CEO da Iyris, essas regiões áridas buscam uma forma de reduzir a dependência de importações de alimentos frescos, um desafio crescente diante da escassez de recursos naturais. A tecnologia também começa a se espalhar por agricultores em países como os Estados Unidos, México, Europa, África do Sul e Marrocos, locais que historicamente desfrutaram de climas favoráveis, mas estão se vendo afetados por alterações climáticas severas. Keppler menciona que a adoção dessa tecnologia não é apenas uma preparação para o futuro, mas uma necessidade imediata para proteger as plantações existentes.

O ano atual promete ser recorde em temperatura global, após um verão que já figurou como o mais quente da história. De acordo com dados do Serviço de Mudança Climática Copernicus da Europa, eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes, resultando em ondas de calor que afetam a capacidade produtiva das plantações. Depois de um evento extremo de calor, a agricultura se vê em crise, já que muitas vezes isso leva à secagem das culturas e à vulnerabilidade a pragas e doenças. O resultado é uma queda na produtividade, que normalmente exige consumo adicional de recursos como água, resfriamento e fertilizantes.

A missão da Iyris é clara e ambiciosa: promover uma agricultura sustentável num mundo de mudanças climáticas intensas. “Estamos avançando significativamente para enfrentar um desafio muito complexo”, afirma Keppler. “Acelerando a oferta de soluções que sejam facilmente implementáveis na agricultura convencional, temos uma chance real de impactar positivamente o setor.”

A tecnologia SecondSky foi integrada a um polifilme flexível, ideal para uso em túneis agrícolas e em coberturas plásticas rígidas de estufas. Segundo Keppler, a vida útil dos polifilmes varia de três a cinco anos, e sua substituição é prática. Importante destacar que, ao contrário de métodos tradicionais como a aplicação de giz em filmes plásticos, o aditivo utilizado por eles não compromete a durabilidade do material.

Para viabilizar a produção e distribuição de suas coberturas, a Iyris estabeleceu parcerias com empresas de plásticos renomadas, como SABIC (Arábia Saudita), Hyma Plastic (Egito) e Armando Álvarez (Espanha). Até agora, foram comercializados 4,5 milhões de metros quadrados desse material inovador.

Inovações na agricultura para a sustentabilidade são mais necessárias do que nunca. Vincent Martin, diretor de Inovação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e agricultura (FAO), ressalta que há um crescimento significativo no número de startups focadas em tecnologia agrícola, que buscam soluções para os desafios locais na produção de alimentos. No entanto, ele alerta que a adaptação dessas inovações por pequenos agricultores e a superação de barreiras de custos são cruciais para uma implementação mais ampla.

Embora a Iyris tenha um foco global, sua atuação na Arábia Saudita, por meio da Iniciativa Nacional de Produção de Alimentos, é um exemplo de como a tecnologia pode mudar a dinâmica da agricultura local. Em projetos no deserto, onde a temperatura pode ultrapassar os 40°C, a empresa está cultivando vegetais como tomates e ervas para suprir mercados locais.

Com a desertificação e a degradação do solo se tornando um tema cada vez mais premente, a tecnologia agrícola mostra-se como uma ferramenta vital na luta contra esses problemas. Um estudo da ONU indica que a agricultura moderna pode ter um papel crucial em reverter a desertificação, promovendo a gestão sustentável do solo e a adoção de culturas mais adaptáveis. O futuro da agricultura sustentável depende de uma abordagem que preserve os recursos naturais, assegurando a produção em um mundo em transformação.