Saúde

Especialistas alertam para a necessidade de intensificar a vacinação contra a dengue durante o verão

A perspectiva de um aumento significativo nos casos de dengue durante o próximo verão é motivo de grande preocupação entre os especialistas. Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), enfatizou a urgência dessa questão, destacando que a dengue é uma doença complexa e desafiadora, cuja luta contra a disseminação remonta à década de 1980, com poucos sucessos notáveis. Para Chebabo, uma estratégia fundamental para mitigar a propagação do vírus é a ampliação da vacinação, buscando assim proteger um número maior de indivíduos da infecção.

O médico alertou que as condições climáticas já indicam um verão quente e chuvoso à vista, e a propagação da dengue teve início bem antes da chegada da estação, já se manifestando de maneira intensa durante a primavera. “Nossa preocupação é crescente em relação ao cenário que se aproxima. Esperamos que mais pessoas se vacinem contra a dengue, permitindo maior cobertura populacional e, consequentemente, uma proteção mais efetiva”, afirmou Chebabo. Ele ressaltou o impacto social da dengue, que vai além das mortes trágicas, englobando problemas de absenteísmo e sofrimento devido a internações, o que caracteriza a enfermidade como um grande desafio de saúde pública. “Mesmo os recuperados afirmam que a experiência da dengue é tão desgastante que não desejam enfrentá-la novamente”, complementou.

Durante a coletiva de imprensa que lançou uma pesquisa inédita sobre como a desinformação e as Fake News afetam a percepção sobre a dengue, Chebabo reforçou que um dos caminhos mais eficazes para combater a dengue é a vacinação. Ele se mostrou otimista de que o Ministério da Saúde, em parceria com empresas do setor, pode expandir a oferta de vacinas, possibilitando a inclusão de mais faixas etárias e localidades na campanha de vacinação.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, também participou da discussão e destacou a importância da capacitação de profissionais de saúde. Segundo ele, a educação adequada destes profissionais é crucial para vencer a hesitação vacinal e conquistar a confiança da população. “Temos promovido diversas iniciativas, como a utilização de gibis educativos e eventos presenciais, em parceria com o Instituto Questão de Ciência, para desmistificar o fenômeno da hesitação vacinal”, explicou.

Kfouri acrescentou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe uma estratégia em cinco pontos, as “5 letras C”, que são fundamentais para melhorar a aceitação da vacina: construir confiança no programa de imunização e na vacina, trabalhar a complacência através da conscientização sobre riscos, garantir a conveniência garantindo fácil acesso às vacinas, melhorar a comunicação acerca da eficácia das vacinas e considerar o contexto específico das populações, como aquelas em regiões remotas.

Uma das revelações mais otimistas do estudo foi que, mesmo frente ao aumento dos casos de dengue no brasil, 88% dos entrevistados consideram a vacina uma medida eficaz de prevenção. A analista de pesquisa de Mercado da Ipsos, Juliana Siegmann, ressaltou que a pesquisa revela um reconhecimento fundamental da importância da vacina no sistema público de saúde.

Entretanto, a pesquisa também evidencia que as Fake News, especialmente nas redes sociais, têm um impacto direto nas decisões sobre vacinação. Quarenta e um por cento dos participantes relataram ter recebido informações falsas relacionadas a vacinas, e aproximadamente 30% admitiram ter evitado se vacinar devido a dúvidas oriundas de informações errôneas. Embora muitos manifestem confiança nas vacinas, há um segmento da população que ainda permanece hesitante, indicando a necessidade urgente de estratégias de comunicação mais eficazes.

Os dados mostram que 91% do público presta atenção em campanhas sobre vacinação, com 90% acreditando que as vacinas são benéficas, e 95% afirmando que verificam a veracidade das informações que recebem. Apesar disso, 23% relataram se sentir negativamente impactados por informações nas redes sociais, resultando em sentimentos como ansiedade e desconfiança.

A TV, seguida das redes sociais e dos postos de saúde, se destaca como as principais fontes de informações sobre dengue e vacinação. O estudo também revelou que cerca de 10% dos participantes mostraram-se céticos em relação às vacinas, evidenciando uma compreensão insuficiente sobre a gravidade da dengue, mesmo entre aqueles que já enfrentaram a doença.

Com o propósito de aprimorar a comunicação e combater a desinformação, Chebabo destacou a necessidade de desvincular a vacinação de questões políticas, visto que a dengue afeta todos, independentemente de suas crenças ou afiliações. Ele citou a experiência negativa com a vacinação contra a COVID-19 como um alerta sobre as consequências da politicização das vacinas.

Finalmente, Vivian Lee, médica da Takeda, ressaltou que o brasil foi o primeiro país a implementar a vacina contra a dengue em seu programa nacional de imunização, um marco que celebram com orgulho. Ela concluiu enfatizando que a criação da vacina tem um longo processo de pesquisa, desmontando a narrativa de que ela foi desenvolvida em tempo recorde.

A campanha “Sem Sombra de dengue. Depende de Você” será lançada e divulgada em diversas mídias, com ações programadas para o Dia Nacional de Combate à dengue, que ocorrerá no próximo sábado, promovendo a conscientização sobre a necessidade da vacinação e a importância de se informar corretamente.

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