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“Especial Trajetórias: Narely de Paula, de Engenheira a Líder que Gera Bilhões”

Narely Nicolau de Paula se define como uma mulher negra de intensa fé, neta de duas Marias — uma rezadeira e a outra, uma poetisa — e de dois Josés que compartilhavam não apenas o nome, mas um sonho comum: sair da sua cidade natal em Minas Gerais em busca de oportunidades na Companhia Siderúrgica Nacional, localizada no Rio de Janeiro. Embora originária de uma família mineira, Narely nasceu no coração carioca e é aqui que começa a sua jornada em direção à formação na área de engenharia.

A história de Narely é profundamente enraizada em sua herança familiar e cultural. “Minhas origens moldaram minha trajetória. Meus avôs deixaram a vida no interior de Minas Gerais com a esperançosa intenção de construir um futuro na indústria do aço. Minhas referências não se limitam ao ambiente industrial; também abarcam exemplos de mulheres fortes, educadoras e figuras religiosas”, compartilha Narely em uma entrevista. Este mês dedicado às mulheres, a sua trajetória é apresentada em uma série especial que destaca conquistas femininas.

Ao decidir qual carreira seguir, Narely optou por trilhar o mesmo caminho de seus avós, ingressando na faculdade de engenharia na PUC Rio, uma escolha perfeitamente alinhada com seus interesses. Em 2006, o brasil estava em evidência devido à descoberta do pré-sal, um marco que despertou seu interesse particular pela especialização em petróleo. “Quando ingressei na universidade, encarei a dificuldade de me inserir em um ambiente predominantemente masculino. Eu era uma das poucas mulheres da minha turma, e a realidade não era diferente no setor de óleo e gás. A ausência de referências femininas era desafiadora”, refletiu.

Hoje, aos 33 anos, Narely se destaca em um cenário que antes parecia inacessível para muitas mulheres, especialmente para aquelas negras. Ao longo de sua carreira, teve a oportunidade de estudar em instituições de renome internacional como Harvard e a Universidade do Kansas, além de atuar como pesquisadora na Petrobras. Há uma década, ela ocupa o cargo de Gerente de Riscos de Petróleo na Austral Seguradora, onde foi pioneira ao estabelecer este segmento, que, hoje, é referência de mercado na América Latina.

“Meu papel na empresa envolve a aceitação de riscos nos quais realmente acredito. A Austral é uma extensão da minha trajetória, pois estou aqui desde o início da abertura de novos serviços. Gerenciamento de apólices de riscos significativos, onde lidamos com valores da ordem de bilhões, se tornou parte do meu cotidiano”, frisou ela.

Fundada em 2010, a Austral Seguradora começou com um foco em seguro-garantia, mas em 2013, expandiu sua atuação para o setor de petróleo e gás. Hoje, a companhia oferece uma variedade de coberturas para operações de produção e extração, atendendo a uma sólida base de clientes, incluindo a Petrobras. A gestão de uma operação que movimenta mais de R$ 1 bilhão é um dos desafios diários que Narely lidera com maestria.

Entretanto, a missão de Narely vai além do sucesso corporativo. Ela acredita que seu trabalho deve garantir não apenas a viabilidade das operações, mas também a sua sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. “A indústria do petróleo é frequentemente vista como a vilã, e seria fácil para mim desviar desse debate. No entanto, optei por me engajar e compreender como posso ser parte da solução na transição energética. Isso implica a aceitação de novos desafios e riscos”, declarou.

Durante a conversa, Narely frequentemente menciona suas raízes e a influência da sua fé, ressaltando a importância de refletirmos sobre o equilíbrio entre progresso humano e natureza. “Apesar da imagem extrativista da indústria do petróleo, é crucial lembrar que existem estudos mostrando como ela pode atuar como um importante sumidouro de carbono, similar aos manguezais, que têm um grande potencial de mitigar gases de efeito estufa”, enfatizou.

Além de ser uma referência na indústria, Narely também abraça a responsabilidade de inspirar outras mulheres, especialmente aquelas negras. “Carrego a missão de agir como um espelho para outras mulheres. É imperativo discutir a escassez de mulheres negras em nosso setor. O caminho é desafiador, mas aos poucos conseguimos firmar nossas bandeiras, abrindo portas para as que virão depois de nós”, afirmou.

Participando da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro em 2024, Narely se destacou ao apresentar questões cruciais para as potências globais. “Acredito que a transição energética deve ser inclusiva e não deixar ninguém para trás. Se não há mulheres negras em posições de poder, reconhecemos que ainda há um grande caminho a ser percorrido”, ponderou.

Um dos conselhos que Narely compartilha é a importância de construir redes de apoio e se inspirar em outras mulheres. Atualmente, ela integra a ‘Sou Segura’, uma associação dedicada a fornecer mentorias e apoio para aumentar a inclusão e qualificação feminina neste setor desafiador.

Para aquelas que sentem insegurança ou dúvida em sua jornada, Narely incentiva a confiança em seu propósito e a crença de que sempre existe uma nova direção a seguir. Com determinação e foco, Narely Nicolau de Paula continua a traçar seu caminho, inspirando-se e inspirando as mulheres ao seu redor a romper barreiras e conquistar seu espaço na indústria.

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