Desaparecimento de Cargos de Gestores Intermediários: Quais as Consequências para o Mercado?
Nos últimos dois anos, as empresas norte-americanas têm realizado reestruturações significativas em suas hierarquias corporativas, com foco na “eficiência” e na redução de custos. Esse movimento resultou na eliminação de vários cargos de gestão intermediária, priorizando uma estrutura mais enxuta. Por exemplo, a Meta, sob a direção de Mark Zuckerberg, implementou cortes em múltiplas camadas de supervisão, caracterizadas por ele como “gerentes gerenciando gerentes”. Essa tendência não se limita à Meta; outras grandes organizações como o Citi e a UPS também se uniram a essa abordagem, com o Citi reduzindo suas camadas de gestão de 13 para 8, e a UPS cortando 12 mil vagas de supervisores.
Essas mudanças estruturais, muitas vezes referidas como “grande achatamento”, têm efeitos profundos que vão além das demissões. Segundo informações de fontes confiáveis, os cargos eliminados não estão sendo reestruturados ou recriados, resultando em uma redução significativa na disponibilidade de posições de gestão intermediária. De acordo com dados da Revelio Labs, uma importante provedora de análises sobre a força de trabalho, as oportunidades para gerentes intermediários estão 42% abaixo do que eram em abril de 2022, mesmo com a recuperação do mercado de trabalho em outros setores.
Essa tendência de eliminação de cargos gerenciais tem raízes na década de 1980, quando a globalização incentivou empresas a adotar uma filosofia de gestão focada em custos. Apesar da busca por eficiência, estudos indicam que os gerentes intermediários desempenham funções cruciais no funcionamento das equipes, como motivar colaboradores, comunicar informações relevantes e resolver desafios operacionais do dia a dia. No entanto, com a atual reestruturação, muitos desses profissionais encontram dificuldade para se reposicionar no mercado de trabalho.
Em 2022, aproximadamente 32% das demissões nos Estados Unidos foram em cargos de gestão intermediária, um aumento considerável em comparação aos 20% observados em 2019. Essa mudança significa que muitos ex-gestores estão competindo por postos que tradicionalmente não exigem uma gestão intermediária, enfrentando o rótulo de “superqualificados”, o que muitas vezes se torna um obstáculo em vez de uma vantagem.
O impacto dessas reestruturações se faz sentir não apenas entre gerentes que perderam seus empregos, mas também dentro das próprias empresas. Os supervisores que permanecem nas organizações frequentemente se veem sobrecarregados devido à redução de pessoal, enquanto os funcionários juniores, desprovidos de mentores, tendem a demonstrar um nível elevado de desengajamento em suas atividades. Especialistas alertam que, a longo prazo, a diminuição de gestores intermediários pode ter efeitos adversos significativos na produtividade e no desempenho organizacional como um todo.
A recuperação dos cargos de supervisão dependerá enormemente de como as empresas analisarem os resultados desses novos modelos organizacionais. Embora vários CEOs defendam que estruturas menos hierárquicas podem aumentar a agilidade e a eficiência, a realidade no campo pode fazer com que as empresas reconsiderem o valor dos gestores intermediários em suas operações. As empresas podem perceber que, na busca por eficiência, a ausência de um suporte adequado pode prejudicar suas operações e a satisfação geral dos funcionários.
O mercado atual apresenta desafios significativos para profissionais que buscam se reposicionar. Ocupantes de cargos de gestão, como Rick, um ex-diretor de 54 anos, expressam sua frustração diante das dificuldades em encontrar novas oportunidades. Ele compartilha: “Só quero uma chance de mostrar meu valor”, refletindo a realidade complexa enfrentada por muitos que possuem vasta experiência, mas que, atualmente, é vista como uma barreira ao invés de um recurso valioso.
Essa tendência de achatamento corporativo revela um paradoxo intrigante: as habilidades e o conhecimento que deveriam ser considerados ativos importantes no mercado de trabalho se tornaram, em muitos casos, obstáculos. Em um ambiente que busca aproveitar ao máximo os recursos disponíveis, a verdadeira questão é como as empresas e os profissionais poderão navegar por essas mudanças, reavaliando a importância da gestão intermediária no futuro. À medida que organizações e indivíduos se adaptam a essa nova realidade, a discussão sobre o papel dos gestores intermediários ganha cada vez mais relevância, o que poderá moldar o futuro do ambiente corporativo de maneiras inesperadas.