Estilo de Vida

Como Deixar o Celular de Lado Pode Te Tornar um Pai Melhor

Quando minhas filhas tinham 6 e 10 anos, tomei a decisão ousada de reduzir o uso dos meus dispositivos eletrônicos, como laptop e smartphone, enquanto passava tempo com elas. Este desafio, que estipulei por um mês, surgiu como uma alternativa às típicas resoluções de Ano Novo, as quais, muitas vezes, se mostram ineficazes.

Após refletir sobre a importância da conectividade familiar, me comprometi a manter os aparelhos desligados sempre que minhas filhas estivessem por perto. Reconheço que, em algumas ocasiões, essa decisão teve seus inconvenientes, e em outras, gerou situações até cômicas. Lembrei-me de fechar o computador sempre que elas entravam na sala, além de reabri-lo somente quando se afastavam. Essa dança constante entre abrir e fechar o laptop se transformou em um ritual que, embora trabalhoso, foi revelador.

Quando a necessidade de olhar para uma tela se fazia essencial, especialmente por questões de trabalho, explicava exatamente o que estava fazendo. Dessa forma, elas compreendiam que não estavam competindo por minha atenção com as redes sociais. A consciência crescente sobre como o uso excessivo de telas afetava nosso tempo juntos foi um grande aprendizado. Entre as 12 micro-resoluções que defini naquele ano, minha meta de reduzir a utilização das telas foi, sem dúvida, a mais transformadora. Esta experiência não apenas aumentou a conexão familiar, mas também me fez perceber o quanto eu estava, sem intenção, ignorando meus filhos por causa da tecnologia.

Minhas filhas também notaram a mudança em nosso relacionamento. Recentemente, minha filha mais nova revelou: “Gosto disso, sinto-me mais conectada. É difícil perceber suas emoções quando você fala comigo olhando para o computador.” Por outro lado, minha filha mais velha expressou: “Quando faço uma pergunta, a sensação é que você está prestando mais atenção, e isso faz toda a diferença.” Essas falas ilustram a importância da atenção genuína nas interações familiares e como essa presença torna os momentos juntos mais valiosos.

Como sabiamente afirmou a filósofa contemporânea Simone Weil, “a atenção é a forma mais rara e pura de generosidade”. Essa frase se tornou um mantra em nossa casa e reflete a importância de estarmos verdadeiramente presentes uns para os outros. O impacto desse pequeno desafio reverberou em nossas conversas, que se tornaram mais significativas e interativas. Após o primeiro mês, percebi que essa resolução era a única que eu realmente queria manter. Porém, como ocorre frequentemente com resoluções, ao longo do tempo fui relaxando com o compromisso, o que é comum na construção de hábitos duradouros.

Atualmente, minhas filhas estão na faixa dos 12 e 17 anos e lidam com seus próprios dispositivos móveis, o que cria novos desafios para nossa dinâmica familiar. Nesse novo cenário, torna-se ainda mais crucial modelar comportamentos tecnológicos saudáveis para que a tecnologia não interfira na comunicação direta e significativa entre nós. Pesquisas recentes reforçam essa preocupação, mostrando que o uso de dispositivos eletrônicos pelos pais na presença dos filhos está associado a um aumento no tempo de tela e na dependência de redes sociais entre pré-adolescentes.

Se o objetivo é regular o uso de tecnologia por parte dos filhos, além de estabelecer regras e limites de tempo de tela, a melhor maneira de influenciá-los positivamente é por meio do exemplo. Minhas conversas com minhas filhas têm revelado essa realidade. Minha filha mais velha confessou que muitas vezes se sente mal por estar no celular em frente aos outros, mesmo quando não está fazendo nada importante na tela.

Por isso, decidi me comprometer novamente com essa prática de deixar o telefone e o laptop desligados sempre que elas estiverem por perto. Essa decisão não é apenas em benefício delas, mas também para fortalecer meu relacionamento com minha esposa, pois a conexão com ela é igualmente fundamental. Às vezes, até anuncio que estou fechando meu laptop, como um lembrete de que a nossa conversa merece toda a minha atenção.

Enquanto escrevia esta reflexão, por exemplo, minha filha mais velha desceu e disse: “Tenho uma pergunta para você.” Com um sorriso, respondi: “Estou fechando meu laptop para poder ouvir completamente!” Essa troca fez com que ela se divertisse e, imagino, que apreciasse o gesto.

O primeiro mês desse novo compromisso ainda não terminou, mas já conseguimos começar a colher os frutos dessa simples, mas poderosa, decisão de estar mais presente como pai. Essa atitude, que prometi adotar ao longo do ano, está transformando nossa dinâmica familiar, melhorando a qualidade da nossa comunicação e fortalecendo nossos laços afetivos.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *