Brasileiros na Finlândia Revelam: Vida Equilibrada Vai Além do Trabalho

Em agosto de 2012, a arquiteta Juliana Padilha Riekki, de 38 anos, decidiu mudar-se da vibrante capital carioca, rio de janeiro, para a encantadora cidade de Tampere, na Finlândia, uma das regiões mais procuradas do país nórdico. Seu casamento com um finlandês foi apenas um dos fatores que a impulsionaram a fazer essa troca radical, deixando para trás o clima quente do brasil em favor do frio característico da Escandinávia. Juliana buscava por uma nova perspectiva e condições de trabalho que promovessem melhor qualidade de vida, encontrando na cultura finlandesa um ambiente propício para construir uma carreira sólida e estabelecer uma família.
No brasil, a realidade da profissão de arquiteto apresentava desafios significativos para Juliana. “Na época em que deixei o brasil, era comum contratar arquitetos como Micro Empreendedores Individuais (MEIs). Essa legislação gerava uma sensação constante de insegurança, pois as conquistas trabalhistas, que deveriam ser garantidas a todos, eram frequentemente ignoradas”, explica a profissional, que atualmente atua em um escritório especializado em arquitetura hospitalar na Finlândia.
Simultaneamente, o publicitário André Moreira Forni, de 39 anos, fez uma escolha similar. Ele trocou a correria de São Paulo pela tranquila Helsinki, no sul da Finlândia, em 2021. A mudança, que foi feita em família, com a esposa e a primeira filha, visava não apenas uma nova oportunidade profissional como diretor de arte em uma empresa de jogos digitais, mas também uma vida mais equilibrada e satisfatória.
“Foram as condições de trabalho que realmente chamaram a minha atenção. Aqui, existe um respeito genuíno pelo equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Embora haja exigências de produtividade durante o expediente, assim que o relógio marca 16h30, as pessoas começam a se retirar, respeitando a importância de um tempo de qualidade fora do trabalho”, conta Forni.
Refletindo sobre sua experiência anterior no brasil, ele menciona: “Embora eu tenha tido benefícios semelhantes em empregos passados, era algo incomum. Muitas vezes, eu sairia por conta de compromissos profissionais, mas meus colegas permaneceriam na empresa. Isso nunca me pareceu justo.”
Em uma recente entrevista, ambos os brasileiros compartilharam as lições que o brasil pode aprender com o modelo de trabalho finlandês. No ambiente corporativo da Finlândia, as empresas frequentemente investem na qualidade de vida de seus funcionários, garantindo que eles sintam-se valorizados e evitando a rotatividade. No caso da Supercell, onde André Forni trabalha, suas duas filhas têm a oportunidade de estudar em uma creche localizada no mesmo edifício da empresa.
“É gratificante poder tomar um café enquanto observo minhas filhas brincando em um parque. Embora meu salário seja bom, o que realmente me encanta na minha empresa é a sensação de que ela se preocupa com o meu bem-estar. Isso cria uma pressão positiva em mim, incentivando-me a realizar um trabalho excelente para retribuir essa atenção”, destaca o publicitário.
Um exemplo dessa preocupação é quando algumas empresas na Finlândia optam por “fechar as portas” durante o mês de julho, o verão na região, permitindo que os funcionários aproveitem as férias em meio ao extenso calor, especialmente após longos períodos de inverno, onde as opções de lazer em família são restritas.
Antes de se transferir para a Finlândia, Juliana fez uma pesquisa cuidadosa sobre o mercado de trabalho e ficou impressionada com o respeito que os finlandeses têm por sua carreira. “Na Finlândia, os direitos dos trabalhadores são levados a sério. Se um funcionário precisa ser dispensado, seu líder deve demonstrar que tentou utilizá-lo em outras funções, como treinamento ou mudança de área. Aqui, as ferramentas de proteção ao trabalhador são praticadas de verdade”, afirma Juliana, que já acumulava experiência no mercado internacional, incluindo um mestrado na Finlândia.
A cultura do “equilíbrio entre trabalho e vida pessoal” ganhou destaque especialmente após a pandemia, mas ainda gera estranhamento para alguns profissionais. Para Forni, a adaptação foi um processo gradual. “No brasil, meu dia típico de trabalho ia das 09h às 20h; aqui, no entanto, o horário é das 09h às 16h30. Aprender a priorizar e sair no horário estipulado, sem levar trabalho para casa, exigiu tempo”, revela.
Graças a esse novo regime, André pode usufruir de mais momentos ao lado da família, especialmente durante o verão, quando os dias são longos e ensolarados. “Posso levar minhas filhas a parques, acompanhá-las nas aulas, fazer passeios de barco para ilhas vizinhas e até desfrutar de praias locais. Sinto que realmente faço parte da vida delas, e elas da minha”, conclui.
Para Juliana, o tempo em família também é um bem valioso. A profissional tem se beneficiado da flexibilidade de poder trabalhar em home office, uma prática que se solidificou após a pandemia. “Estamos mais abertos a trabalhar remotamente, o que aumenta nosso tempo juntos. Durante o verão, aproveitamos os passeios pelo lago e nosso jardim. Temos qualidade de vida que vai além do simples trabalho”, afirma a arquiteta, mãe de dois filhos.
Embora o idioma finlandês e o clima frio possam ser barreiras para muitos profissionais que buscam novas oportunidades, Juliana prefere ser reconhecida como “a arquiteta brasileira” na Finlândia ao invés de “mais uma arquiteta” no Rio. “Aqui, sou vista como um ser humano e profissional. O bem-estar é prioridade, e anualmente avaliamos o ambiente de trabalho, onde todos têm a oportunidade de expressar suas expectativas e desejos”, afirma.
Em resumo, a cultura de trabalho finlandesa oferece valiosas lições que poderiam ser adotadas no brasil, enfatizando a importância da valorização do profissional. Além de se esforçarem para manter seus funcionários, Riekki destaca que as empresas reconhecem o empenho de cada um. “Quando o esforço e o investimento em um colaborador são reconhecidos, isso resulta em profissionais mais saudáveis mentalmente e, consequentemente, em resultados mais efetivos no trabalho”, conclui.
O respeito pelo tempo pessoal em relação ao trabalho é outra lição que a Finlândia, frequentemente reconhecida como o país mais feliz do mundo, pode ensinar. “Equilibrar lazer e trabalho gera profissionais mais satisfeitos, saudáveis e, por fim, mais produtivos, pois o tempo é nosso bem mais precioso”, conclui. Para Forni, a ideia de retornar ao antigo estilo de vida é inconcebível. “A qualidade de vida deve ser considerada uma forma de remuneração. O bem-estar precisa constituir parte do pacote de benefícios oferecidos pela empresa. Quando há confiança no funcionário, ele naturalmente se empenha para não desperdiçar essa oportunidade.”