Alejandra Yacovodonato: A Importância do ROI na Educação Socioemocional
Se os jovens de hoje são os futuros colaboradores do mercado de trabalho, é essencial dedicar atenção urgente ao desenvolvimento de competências socioemocionais. A pesquisa realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em colaboração com o Instituto Ayrton Senna, apresenta um panorama alarmante: estudantes provenientes de contextos socioeconômicos desfavorecidos apresentam lacunas significativas em habilidades como criatividade, empatia, curiosidade, assertividade e sociabilidade. Diante dessa realidade, surge uma questão crucial: como promover o sucesso pessoal e profissional em meio a essas desigualdades?
Recentemente, o tema ganhou destaque com a nova reforma do Ensino Médio e as alterações na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). No entanto, ainda existe uma enorme discrepância entre a teoria e a prática nas salas de aula. No setor público, a falta de capacitação, recursos e estratégias adequadas impede o avanço necessário. Por outro lado, nas instituições privadas, a implementação de soluções voltadas para o ensino de competências socioemocionais tem se mostrado mais eficaz, com um crescimento de mais de 300% na demanda, conforme uma pesquisa da edtech Educa. Essa disparidade evidencia a necessidade de um aumento de investimentos em escolas públicas, uma vez que a ausência desse suporte perpetua desigualdades sociais, limitando o acesso dos alunos a ferramentas cruciais para o desenvolvimento dessas habilidades.
Desenvolver competências socioemocionais é uma responsabilidade que deve ser compartilhada entre diferentes setores da sociedade. O terceiro setor, por exemplo, surge como uma resposta à lacuna deixada pelo governo, onde recursos e ações são frequentemente insuficientes para enfrentar os desafios enfrentados pelo país. Nesse sentido, as empresas têm um papel fundamental e vital na redução das desigualdades, contribuindo de forma significativa para a construção de um futuro mais igualitário.
Uma máxima popular na Venezuela ilustra bem essa dinâmica: “se pagar e se dar o troco”. Isso significa que, se os lucros das empresas se originam dos consumidores, é natural e justo que haja um retorno sob a forma de benefícios sociais. O desenvolvimento começa nas escolas, que preparam os jovens para a transição ao mercado de trabalho. Assim, é do interesse do setor empresarial não apenas receber novos profissionais, mas também capacitá-los para enfrentar os desafios corporativos.
O retorno sobre o investimento (ROI) das competências socioemocionais é evidente, especialmente à luz de um relatório do McKinsey Health Institute de 2023, que envolveu mais de 30 mil trabalhadores em 30 países. Os dados mostram que colaboradores que vivenciam experiências positivas no ambiente laboral divulgam uma melhor saúde geral, além de apresentarem taxa de inovação mais elevada e desempenho profissional aprimorado. Entre os benefícios para as empresas, destacam-se:
1. **Aumento da produtividade**: Trabalhadores com habilidades de regulação emocional são mais engajados e resilientes, refletindo em resultados superiores para as organizações.
2. **Melhoria do clima organizacional**: A comunicação eficaz e a cooperação entre equipes ajudam a criar um ambiente de trabalho saudável, o que impacta positivamente na satisfação dos funcionários e na retenção de talentos.
3. **Fomento à inovação**: Profissionais com competências socioemocionais desenvolvidas se destacam pela criatividade e capacidade de gerar ideias inovadoras.
4. **Tomada de decisões estratégicas**: Habilidades de análise de situações complexas e avaliação de riscos são essenciais para garantir o sucesso na carreira.
Além das habilidades mencionadas, competências como empatia, comunicação eficaz, resolução de conflitos e flexibilidade são altamente valorizadas no mercado de trabalho atual.
Contudo, a implementação de habilidades socioemocionais enfrenta desafios significativos, principalmente em relação à acessibilidade e aos custos envolvidos. Nas áreas mais remotas, a escassez de profissionais capacitados para oferecer uma educação socioemocional de qualidade se torna um obstáculo importante. Outro desafio reside na adaptação metodológica, que deve considerar a diversidade e as particularidades dos grupos sub-representados. Nesse aspecto, o trabalho deve ser realizado em conjunto com a comunidade para desenvolver conteúdos que se ajustem à sua realidade.
Além disso, estabelecer uma rotina de ensino e avaliação das competências socioemocionais, utilizando ferramentas como escalas de autoavaliação e feedback entre pares, é crucial. Apesar das dificuldades, é fundamental valorizar a formação inicial e assegurar que todos tenham oportunidade de expandir seus conhecimentos.
Embora existam obstáculos a serem superados na inclusão de competências socioemocionais em larga escala, os benefícios são inestimáveis. Uma educação de qualidade que promova identidade, autonomia e propósito permitirá o florescimento da curiosidade, a ampliação da compaixão e o incentivo à coragem necessária para mobilizar recursos cognitivos, sociais e emocionais. Tais habilidades são fundamentais para enfrentar os desafios contemporâneos. Portanto, juntos, podemos construir uma sociedade que valorize o autoconhecimento e reconheça a educação socioemocional como um pilar para o sucesso individual e coletivo.