Acordo UE-Mercosul: Por que esta semana é crucial para seu avanço, apesar do boicote da França
O Ministério da Agricultura do brasil recebeu, na última terça-feira, uma carta formal do CEO do grupo francês carrefour, Alexandre Bompard, expressando suas desculpas ao país. Esse gesto é visto pelo governo brasileiro como um sinal de “retorno à normalidade” nas relações comerciais. Após a retratação do executivo, os frigoríficos brasileiros que haviam interrompido o fornecimento ao carrefour reataram parcerias, voltando a abastecer a rede de supermercados no brasil.
Na semana anterior, Bompard havia gerado uma crise ao declarar que sua empresa não compraria mais carne do mercosul, em apoio aos agricultores franceses que se opõem a um acordo comercial com a União Europeia (UE). Essas declarações provocaram grande apreensão entre os produtores brasileiros, levando a uma suspensão imediata do fornecimento de carne.
Atualmente, representantes do mercosul e da União Europeia estão reunidos em Brasília, em uma tentativa de chegar a um entendimento antes da reunião de cúpula do mercosul, programada para os dias 5 e 6 de dezembro em Montevidéu. O governo brasileiro expressa otimismo quanto à possibilidade de um acordo ser alcançado durante esses encontros.
Em sua carta, Bompard ressaltou a importância do carrefour na agricultura francesa, afirmando que a empresa compra a maior parte da carne que utiliza em suas operações na frança e, da mesma forma, adquire quase toda sua carne do brasil. O CEO também reconheceu a qualidade da produção brasileira e pediu desculpas por qualquer confusão gerada por suas palavras, que poderiam ser interpretadas como um ataque à parceria com os produtores brasileiros. Ele elogiou as normas rigorosas da agricultura brasileira, afirmando que a carne do brasil é de alta qualidade, atenta a padrões de segurança e sabor.
Com o pedido de desculpas oficializado, as associações que representam os setores de carne bovina, aves e suínos no brasil foram autorizadas a retomar suas vendas ao carrefour. Esta ação de retaliação havia sido iniciada na quinta-feira anterior às desculpas de Bompard. A Associação Brasileira de Exportadores de carne (Abiec), que foi uma das líderes na reação à postura do carrefour, declarou ter recebido com satisfação a reconciliação, destacando a qualidade dos produtos brasileiros.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), também comentou em uma entrevista que a retomada do fornecimento de aves e suínos está prevista, afirmando a importância de garantir que esses produtos estejam disponíveis nas prateleiras, especialmente com a proximidade do Natal.
Enquanto isso, em Brasília, iniciou-se uma nova rodada de negociações entre o mercosul e a União Europeia, com esperança de que estes diálogos levem a um entendimento definitivo. A expectativa é que os encontros se estendam até a próxima sexta-feira e que possam culminar em um acordo formal durante a reunião do mercosul na capital uruguaia.
Existem sinais de otimismo entre os diplomatas brasileiros, que acreditam que um acordo pode ser anunciado na próxima reunião de cúpula, com a presença de Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. O apoio ao acordo é forte entre várias nações europeias, incluindo a alemanha, a Espanha e Portugal, embora a posição do presidente francês Emmanuel Macron, que se opõe ao acordo devido a preocupações com os agricultores franceses, complica a situação.
Recentemente, o Parlamento francês expressou seu desdém em relação ao acordo em uma votação simbólica, com 484 dos 555 deputados manifestando apoio à posição de Macron. Isso ocorreu em meio a protestos de setores agrícolas na frança, com o governo francês buscando um entendimento unânime para pressionar a Comissão Europeia.
Especialistas, como Lia Valls, da FGV Ibre, destacam que a postura do carrefour poderá afetar a imagem do brasil na Europa, especialmente na frança, mas ressalvam que os principais mercados de carne do brasil estão na Ásia e não devem ser impactados por essas tensões. Os críticos do acordo argumentam que os produtos do mercosul, principalmente os do brasil, devem competir em condições desleais, pois não seguem as rigorosas normas sanitárias e ambientais da Europa. Em resposta, o governo brasileiro afirma que seus exportadores já atendem aos mais altos padrões de segurança alimentar e sustentabilidade.
Marcos Jank, professor de agronegócio global, critica a abordagem do carrefour, chamando de demagógica a ideia de que a carne brasileira não possui qualidade. Ele acredita que a mobilização dos setores produtores do brasil diante da postura francesa e do carrefour demonstra a relevância global do brasil no comércio de carne.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, afirma que a situação atual ilustra o protecionismo da União Europeia, ao mesmo tempo que vislumbra a possibilidade de algum avanço nas negociações, embora ressalte que, mesmo se um acordo for fechado, pode demorar entre quatro a cinco anos para entrar em vigor.